O tecido gorduroso bucal foi descrito pela primeira vez em 1732, por Heister, o qual acreditava se tratar de uma estrutura de natureza glandular, denominando-a “glândula malar”. Em 1802, Bichat foi capaz de detectar sua natureza adiposa. Há uma estreita relação entre a gordura bucal e músculos da mastigação, auxiliando os lactentes na sucção do leite por atuar com um tecido de deslizamento. Sua projeção diminui com o aumento da idade, tanto pela redução discreta de seu volume quanto pelo crescimento facial em maior proporção.
A gordura de Bichat ocupa o espaço de mastigação e tem relação com o ramo bucal do nervo facial e com o ducto da parótida1. Ela pesa em média 3,9g e apresenta 6mm de espessura na maioria dos casos. Costuma existir uma diferença de peso de 0,51g em média entre os lados direito e esquerdo.
Sua magnitude tem uma fraca correlação com a gordura total do corpo e apresenta dois compartimentos, um branco-amarelado e um castanho. Essa estrutura tem muitas aplicações clínicas, incluindo: fechamento de fístulas oronasais; corrigir defeitos intraorais; reparar defeitos do palato; recobrir enxertos ósseos maxilares; corrigir fendas palatinas 1.
Desde que Egyedi descreveu em 1977 a técnica de fechamento de comunicações oroantrais, usando a gordura de Bichat pediculada, o procedimento tornou-se útil na cirurgia oral reparadora. Nas últimas três décadas, vários autores recorreram ao uso da gordura de Bichat para ocluir comunicações oroantrais de etiologia diversa, sejam elas agudas, crônicas ou recorrentes.
As vantagens relatadas de sua utilização são: fácil disponibilidade do retalho e o grande suprimento sanguíneo do leito receptor, o que resulta em altas taxas de sucesso. As complicações com essa técnica são raras, sendo que na maioria dos casos são alcançados resultados estéticos, fonéticos e mastigatórios aceitáveis 2.
O corpo adiposo da bochecha possui seis extensões espalhadas pelas regiões massetérica, temporal superficial, temporal profunda, pterigomandibular, esfenopalatina, áreas orbitais inferiores e é uma massa de gordura situada entre os músculos bucinador e masseter³. Apesar de ser histologicamente similar a outros depósitos de gordura no organismo, o corpo adiposo da bochecha não é consumido pelo metabolismo, sendo bastante semelhante à gordura orbitária. Em algumas pessoas essa estrutura anatômica pode conferir um aspecto de rosto arredondado, criando um contorno facial desarmônico 1.
A bichectomia ou bichatectomia é o procedimento cirúrgico que visa remover a “bola gordurosa de Bichat”, com fins estéticos e/ou funcionais. Sua principal indicação funcional consiste em correção de defeitos mastigatórios como a lesão crônica da mucosa jugal (Morsicatio Buccarum) 1. Trata-se de um procedimento relativamente simples, que pode ser realizado sob anestesia local.
Através da incisão intraoral, remove-se as bolas gordurosas, permitindo aspecto mais afinado da face, ressaltando os ângulos da região de ramo da mandíbula, acentuando a região malar e proporcionando um terço inferior da face menos volumoso³. Entre as complicações mais frequentemente relacionadas ao procedimento destaca-se lesão do ducto de Stenon ou do ramo bucal do nervo facial, que provocam, respectivamente, sialocele/fístulas salivares e paralisia bucal temporária ou definitiva, além de hematoma, assimetria facial e, raramente, infecções pós-operatórias. Os resultados podem efetivamente ser vistos depois de quatro a seis meses quando o edema de partes moles é definitivamente reabsorvido 3,4.